A construção civil é um sistema muito complexo. São muitas variáveis que precisam trabalhar juntas para que o sistema inteiro funcione bem. Porém esse sistema sofre hoje com a baixa produtividade e desenvolvimento. Alguns dos motivos do atraso do setor são a falta de padronização de projetos, baixa qualidade da mão de obra, falta de pesquisa e desenvolvimento no setor, pressão por custos…
Para melhorarmos o índice de produtividade e qualidade, precisamos repensar a forma de construir.
Em junho de 2020, a consultoria McKinsey & Company publicou um relatório chamado “The Next Normal in Construction - How disruption is reshaping the world’s largest ecosystem” (O novo normal na construção - como a disrupção está alterando o maior ecossistema do mundo). Você pode acessar o relatório na íntegra clicando aqui. Neste relatório são apresentados diversos dados que mostram como a construção civil está muito atrasada no desenvolvimento, além de sugerir algumas mudanças para melhorar esse cenário e quais os principais desafios encarados pelos participantes do mercado.
A construção civil representa 13% do PIB Global sendo assim o maior ecossistema do mundo, porém o índice de produtividade só fica na frente da indústria de caça e pesca. A produtividade cresceu apenas 1% nas últimas 2 décadas.
Nos Estados Unidos, um estudo realizado pelo Center for Integrated Facility Engineering (CIFE) na Universidade de Stanford mostrou que a produtividade da mão de obra hoje é 10% menor do que a produtividade em 1964. Ou seja, em mais de 40 anos a produtividade da mão de obra reduziu, apesar de todo desenvolvimento tecnológico que tivemos nesse período. Em outros setores, não agrícolas, a produtividade nesses anos mais que dobrou.
Algumas das causas da baixa produtividade são:
Demanda cíclica: a flutuação na demanda acaba diminuindo os investimentos no setor, fazendo com que a padronização fique limitada e inviabilizando a pré-fabricação de componentes;
Projetos complexos: as obras estão cada vez mais complexas e desafiadoras, e cada projeto é abordado como algo único, dificultando a repetibilidade;
Logística complexa: na construção civil a logística sempre é um desafio por trabalharmos com materiais pesados e de baixo valor agregado em muitos casos.
Trabalho manual e falta de mão de obra qualificada: muitas atividades ainda realizadas de forma altamente manual, sem nenhum processo industrializado.
Barreira de entrada baixa: diferente de outros setores, na construção civil é muito fácil para novas empresas entrarem no setor. Muitas vezes com alta informalidade e baixa produtividade;
Altamente regulada: a burocracia do setor atrapalha o seu desenvolvimento;
Política do menor preço: trabalhar sempre pelo menor preço gera projetos de menor qualidade e confiabilidade.
Apesar de todas essas dificuldades, precisamos desenvolver saídas no ecossistema para desenvolver mais o setor da construção civil. Segundo o relatório da Mckinsey as empresas que mudarem sua forma de atuação podem dobrar seus ganhos. Pela análise, o mercado possui 265 bilhões de dólares de oportunidade de lucro para as empresas que forem disruptivas no setor e conseguirem inovar.
O relatório mostra que o mercado deve passar por algumas mudanças nas suas características e com a chegada de novas disrupções, a dinâmica da indústria da construção civil deve mudar bastante nos próximos anos.
Mudanças nas características do mercado: a forma como o mercado e os clientes se comportam deve mudar nos próximos anos, principalmente pela exigência cada vez maior por moradias sustentáveis, eficientes e com baixo custo.
Demandas dos consumidores - pressão de custos, estruturas adaptáveis, sofisticação, performance, integração digital e simples, sustentabilidade e segurança;
Característica das construções - escassez de mão de obra qualificada, mudança e melhoria logística;
Regulamentação e regras de mercado - maior regulação em segurança e sustentabilidade, incentivos para métodos mais modernos
Surgimento de disrupções: A demanda faz com que o ecossistema da construção civil se mexa, porém os modelos fundamentais de negócios e a forma como os negócios são tratadas ainda não mudaram na maioria das participantes do mercado. Isso causa uma instabilidade no setor, dificultando o avanço da inovação e gerando uma falta de demanda para os entrantes do mercado. O avanço tecnológico que as inovações podem gerar vão alterar a forma que a construção civil se organiza e como seus produtos são gerados. O uso de materiais novos e melhores, processos industrializados e digitalizados será um enorme avanço para o setor.
Industrialização - construção off-site, ambiente controlado, sistema de produção modular de componentes. Sistemas mais eficientes e modernos de construção. Menor tempo de obra no canteiro.
Novos materiais: materiais leves e versáteis - maior produtividade, melhoria logística, maior qualidade;
Digitalização de produtos e processos - Produtos e operações inteligentes, BIM, novos canais de compra e venda, processos produtivos e construtivos digitalizados.
Novos Entrantes - Start-ups, capital de risco, novos modelos de negócios
Para que tudo isso aconteça, a Mckinsey elencou 9 mudanças que devem alterar significativamente o ecossistema da construção civil. Para as empresas que foram entrevistadas na elaboração do relatório, 75% delas acreditam que essas mudanças são prováveis de ocorrer, e mais de 60% acreditam que vão ocorrer nos próximos 5 anos. Esses parâmetros de mudança são:
Abordagem baseada no produto: mudança da mentalidade de que cada projeto é único e não pode ser reaproveitado;
Especialização: cada empresa fará apenas um tipo de construção, sendo altamente especializado nela;
Controle da cadeia de valor: maior controle da cadeia de suprimento e de geração de valor;
Consolidação: empresas maiores tendem a se consolidar por terem maior capacidade de investimento em inovação e oportunidade de escala;
Centrado no cliente e Branding: marcas cada vez mais fortes;
Investimento em tecnologia e estrutura: produção off-site e tecnologias de controle e gestão de processos;
Investimento em RH: necessidade de mão-de-obra mais cara e com habilidade para negócios digitais;
Internacionalização: menor barreira para a internacionalização devido ao ganho de escala;
Sustentabilidade: maior cuidado com o meio ambiente. Menor geração de carbono em toda a cadeia.
Todas essas mudanças serão fundamentais no futuro do mercado. Para entender um pouco mais a fundo sobre o tema, gravamos uma live aqui da uBeton com o Ecossistema de Inovação na Construção Civil do Paraná - Ecossistema Construimob - que pode ser acessada clicando aqui.
Espero que tenha gostado do tema! Siga nossas redes sociais e nosso blog para mais conteúdos sobre construção civil! Abraço.

Autor:
Fernando Casavechia Teixeira
Especialista em Lean Manufacturing pela PUCPR
Diretor Comercial na Ubeton
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